terça-feira, 8 de setembro de 2015

Tempo sem tempo...



O fogo do sol brilhava sobre a rosa pelas almas e corpos que se entregavam às delícias da paixão. Suavemente, as mãos dele deslizaram em todos os caminhos de beleza dela. E foi botão de rosa. O sol, timidamente, acariciava-a e, enternecido e os seus raios eram carícia. Sensações mil despertavam o desejo para que as pétalas viçosas e virgens se abrissem. O sol fugia e reaparecia numa intensidade cada vez mais apetecida. E ele dançou nela, envolvendo-a docemente nesse calor inebriante. E ela dançou com ele. E a pétala sangrou no seu abrir lento. A sedução era a entrega sem limites. E a primeira seiva de vida correu. Sorriu ao sol e o seu perfume foi oferta àquele calor acariciante. E o sol tomou-a inteira. A ternura da paixão conquistou-a até ao fundo da sua alma. Momento mágico de vida! As suas pétalas tinham-se aberto agora em plenitude. Milagre de vida e a rosa nasceu plena.

Ambos sorriam… neles uma primavera.

sábado, 7 de junho de 2014

Armadilha

Era uma segunda-feira de Julho. Laura acordou cedo, tomou um banho relaxante em vez do habitual chuveiro apressado, vestiu-se com esmero usando como adorno o colar de pérolas que tinha herdado da sua avó materna. Saiu de casa com uma pequena mala de viagem, em direcção à rodoviária.
Depois de tirar o bilhete e de a terem informado que o autocarro para Lisboa vinha um pouco atrasado, Laura dirigiu-se ao café da gare. Enquanto tomava uma bica, olhava para toda aquela excitação à sua volta. Era tempo de férias e as pessoas estavam ansiosas por calor, depois de um longo inverno frio e chuvoso. O mês de Julho prometia ser muito quente.
Depois de confortavelmente instalada junto de uma janela, tirou da carteira o telemóvel e escreveu uma mensagem. Passado alguns segundos, o telemóvel tocou.
Laura não pode deixar de sorrir antes de atender a chamada.
_Bom dia, Viriato. Como estás? Quando chegar, ligo-te.
Depois de guardar o telemóvel na carteira, Laura recosta-se bem no assento, fecha os olhos e perde -se nos seus pensamentos. A viagem iria demorar pelo menos três horas.
Estava a seguir impulsos instintivos há dois meses, desde que comunicara a Viriato a sua viagem ao Algarve e ele lhe propusera passar por Lisboa para se encontrarem e se conhecerem pessoalmente.
Levados pela sedução da internet, tinham-se conhecido num chat social e teclavam há oito meses.
Sempre que ligava o computador, ele estava online. Tornou-se um hábito e acabaram por criar uma amizade virtual. No princípio, houve de parte a parte algumas defesas, mas com o tempo foram derrubadas e acabaram por trocar os números de telefone.
Ela sempre tentara ser racional nos seus conhecimentos virtuais, pois sabia que a internet oferecia um mundo de sonhos, e tinha em mente que muita gente não tinha nenhuns escrúpulos em brincar com os sentimentos alheios.
Mas Viriato tanto insistiu para estarem juntos quando ela passasse por Lisboa, que acabou por aceder ao pedido dele. Ele lá estaria à sua espera na rodoviária que ficava no Largo do Cego, antigo terminal de eléctricos. Ela conhecia mal Lisboa. Tinham uma hora para estarem juntos, que era o tempo do seu transbordo para o Algarve.
Viriato chegou à rodoviária meia hora antes da hora prevista. Dirigiu-se ao balcão de informações e, com um sorriso no canto dos lábios, agradeceu a informação desejada. Comprou o jornal, consultou o relógio, suspirou e acabou por se sentar. Abriu o jornal para ler as notícias mais importantes do dia, mas o seu pensamento concentrou-se na pessoa que iria conhecer pessoalmente. Esperava que na vida real tivessem a mesma empatia, pois ela tinha-o cativado com o seu temperamento, que era um misto de rebeldia e doçura. Estava com uma tal ansiedade que mal cabia dentro de si.Em casa tinha dado a desculpa habitual, que iria almoçar com um amigo. Era casado há vários anos, pai de três filhos. Amava a esposa e a sua vida familiar mas tinha um fraquinho por mulheres. Era um sedutor. Os amigos alcunharam-no de “pinga amor”.
O autocarro chega e Laura respira de alívio. Procura com o olhar o homem do livro na mão e fica surpreendida com a sua elegância. Sentindo-se observado, ele vira-se e dá-se uma troca de olhares que revelam um mundo de sentimentos inesperados de parte a parte. Reconhecendo-a de imediato, vai ao seu encontro com um sorriso radioso.
_ Olá Laura!
E num impulso irresistível, beija-lhe os lábios suavemente.
_ Como estás, Viriato? Pergunta a tentar disfarçar o efeito que o toque dos lábios dele lhe provocou.
Sedutor, ele convida-a:
_ Vamos almoçar aqui perto, querida?
Antes de aceitar Laura recorda que apenas têm uma hora livre.
_ Não te preocupes, temos tempo.
Saíram da rodoviária e entraram num restaurante. Viriato disse qualquer coisa ao empregado, que os conduziu a uma pequena sala à parte, local discreto e aconchegante.
O almoço decorre em plena harmonia, entre sorrisos e vinho verde.
_ Não queres ir antes ao fim da tarde? – Pergunta Viriato - Podíamos ir passear que sou um bom cicerone, ou então para um sítio calmo e descontraído. E sorriu malicioso.
Laura sente-se fascinada pela ideia. Esquece a racionalidade e pulsa-lhe a vontade de entrar naquele jogo de sedução. A companhia de Viriato estava a ser muito agradável. Sente-se presa na armadilha daqueles sedutores olhos azuis e acaba por dizer sim.
…………………………………………………..
Passaram nove meses. Laura já não tem tempo, nem vontade, de frequentar os chats da internet.

sábado, 26 de abril de 2014

Abraçar a tristeza




















Minha alma
triste
condenada
a vagar na sombra.
Ardilosa
entra
escrava e nua
coroada
de espinhos
canta
lamentos
embala
a dor aninhada
em solidão.
Coração esquecido
ouve o silêncio
num desejo
do amanhã...



segunda-feira, 17 de março de 2014

Olhares cruzados













Olhares cruzados
Num voo errante
Entre o céu e o mar
À noite a magia
De conjugar o verbo
Amar.
Olhares sedentos
Corpos inflamados
Cheiros
Se misturam
Em lençóis de cetim.
Numa sintonia singular
Voltam a viajar
Em Mapas geográficos
Fluidos saídos das veias
Inundam corações a extasiar
Num eterno namorar.

 

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Desejo





















Desperta,
não durmas,
abraça-te à minha alma
olha os meus olhos.
Aninhada no meu querer
sussurro
alenta o meu corpo
quero toques
urgentes.
Mãos sedentas
carícias suaves
o desejo atiçado
fogo avivado
corpo em chamas
chega-te a mim
agora!
Ama-me sem restrições
ama-me assim...

sábado, 15 de fevereiro de 2014

As quatro estações do ano

Há milhares de anos, antes de o homem ter sido criado, Gaia, a deusa da Terra e da Natureza, escolheu quatro fadas para serem as estações do ano.
Todos os seres mágicos da floresta e redondezas foram convidados para assistir ao grande acontecimento.
 No centro de uma grande clareira, a Deusa Gaia, sentada num trono majestoso e coroada de flores, chamou as quatro fadas.
As belas fadas, com asas transparentes, vestidos esvoaçantes e uma tiara luminosa na cabeça, aproximaram-se sorridentes da deusa da Terra. A deusa convidou-as a apresentarem-se aos convidados.
Eu sou a Primavera, a estação da beleza e da alegria.
Eu sou o Verão, a estação do calor e do lazer.
Eu sou o Outono, a estação da limpeza e das cores douradas na natureza.
Eu sou o Inverno, a estação do frio e da neve.
Numa voz doce, forte e cheia de magia, Gaia disse:
- Eu vos fado com todos os poderes mágicos e poderosos, serão as estações do ano. Mas têm que respeitar as leis e nunca trocarem as estações. Se tal não acontecer, serão castigadas e a vossa varinha mágica perderá todos os poderes.
As quatro fadas agradecidas prometeram lealdade à deusa da Terra.
Os convidados aplaudiram e deram os parabéns às fadinhas. O sol brilhou embelezando o lugar. As flores perfumaram o ar docemente. Os seres mágicos cantaram doces melodias. Felizes e contentes dançaram e comeram as melhores iguarias, juntamente com os convidados. O dia parecia perfeito.
De repente, ouviu-se um grande estrondo. Os pássaros levantaram voo das árvores em nuvens espessas. Os convidados fugiram assustados.
Escondida atrás de uma frondosa árvore, estava a Fada má, coberta com um manto negro, furiosa por não ter sido convidada para a festa. Tentou várias vezes desfazer os poderes mágicos dados pela deusa Terra, mas foram em vão.Com os olhos esbugalhados pela cólera, afastou-se prometendo vingança.
Tudo corria às mil maravilhas, quando, um dia, as quatro fadas subitamente adormeceram num sono profundo. E as estações começaram a ficar trocadas. Enquanto elas brincavam junto ao lago, morada da fada Primavera, a fada má escondida vigiava as fadinhas. Sorrateiramente colocou uma árvore com bonitas bagas vermelhas perto delas. Gulosas, comeram com grande satisfação as bagas envenenadas. Adormeceram em seguida. A fada má rodopiou no ar, ecoando gargalhadas de contentamento pela floresta, por ter conseguido enfeitiçar as quatro fadas. Ninguém conseguiria quebrar o feitiço.

Os habitantes ficaram tristes e desesperados pela mudança do tempo e foram ter com Gaia. A deusa da Terra descobriu logo que tinha sido uma maldade da fada má. Correu a pedir ajuda aos seus amigos.
A terra, sol, lua e as estrelas passaram dias e dias a tentar descobrir uma poção que quebrasse o feitiço da fada má.
Depois de tanto esforço e trabalho, e sem desanimarem, com a esperança sempre ao seu lado, descobriram o feitiço da fada malvada.
A deusa da Terra aproximou-se das quatro fadas adormecidas e com a sua varinha de condão voltou a fadá-las:
- Eu vos fado agora e para todo o sempre. Vão ficar hibernadas.
E assim as estações do ano estão hibernadas, acordam uma por uma de três em três meses.
A fada má foi castigada ficando sem a varinha mágica. Furiosa e frustrada, fugiu para outro lugar.
Todos viveram felizes e orgulhosos das estações do ano.