Era uma segunda-feira de Julho. Laura
acordou cedo, tomou um banho relaxante em vez do habitual chuveiro
apressado, vestiu-se com esmero usando como adorno o colar de pérolas
que tinha herdado da sua avó materna. Saiu de casa com uma pequena
mala de viagem, em direcção à rodoviária.
Depois de tirar o
bilhete e de a terem informado que o autocarro para Lisboa vinha um
pouco atrasado, Laura dirigiu-se ao café da gare. Enquanto tomava
uma bica, olhava para toda aquela excitação à sua volta. Era tempo
de férias e as pessoas estavam ansiosas por calor, depois de um
longo inverno frio e chuvoso. O mês de Julho prometia ser muito
quente.
Depois de confortavelmente instalada junto de uma janela,
tirou da carteira o telemóvel e escreveu uma mensagem. Passado
alguns segundos, o telemóvel tocou.
Laura não pode deixar de
sorrir antes de atender a chamada.
_Bom dia, Viriato. Como estás?
Quando chegar, ligo-te.
Depois de guardar o telemóvel na
carteira, Laura recosta-se bem no assento, fecha os olhos e perde -se
nos seus pensamentos. A viagem iria demorar pelo menos três
horas.
Estava a seguir impulsos instintivos há dois meses, desde
que comunicara a Viriato a sua viagem ao Algarve e ele lhe propusera
passar por Lisboa para se encontrarem e se conhecerem
pessoalmente.
Levados pela sedução da internet, tinham-se
conhecido num chat social e teclavam há oito meses.
Sempre que
ligava o computador, ele estava online. Tornou-se um hábito e
acabaram por criar uma amizade virtual. No princípio, houve de parte
a parte algumas defesas, mas com o tempo foram derrubadas e acabaram
por trocar os números de telefone.
Ela sempre tentara ser
racional nos seus conhecimentos virtuais, pois sabia que a internet
oferecia um mundo de sonhos, e tinha em mente que muita gente não
tinha nenhuns escrúpulos em brincar com os sentimentos alheios.
Mas
Viriato tanto insistiu para estarem juntos quando ela passasse por
Lisboa, que acabou por aceder ao pedido dele. Ele lá estaria à sua
espera na rodoviária que ficava no Largo do Cego, antigo terminal de
eléctricos. Ela conhecia mal Lisboa. Tinham uma hora para estarem
juntos, que era o tempo do seu transbordo para o Algarve.
Viriato
chegou à rodoviária meia hora antes da hora prevista. Dirigiu-se ao
balcão de informações e, com um sorriso no canto dos lábios,
agradeceu a informação desejada. Comprou o jornal, consultou o
relógio, suspirou e acabou por se sentar. Abriu o jornal para ler as
notícias mais importantes do dia, mas o seu pensamento concentrou-se
na pessoa que iria conhecer pessoalmente. Esperava que na vida real
tivessem a mesma empatia, pois ela tinha-o cativado com o seu
temperamento, que era um misto de rebeldia e doçura. Estava com uma
tal ansiedade que mal cabia dentro de si.Em casa tinha dado a
desculpa habitual, que iria almoçar com um amigo. Era casado há
vários anos, pai de três filhos. Amava a esposa e a sua vida
familiar mas tinha um fraquinho por mulheres. Era um sedutor. Os
amigos alcunharam-no de “pinga amor”.
O autocarro chega e
Laura respira de alívio. Procura com o olhar o homem do livro na mão
e fica surpreendida com a sua elegância. Sentindo-se observado, ele
vira-se e dá-se uma troca de olhares que revelam um mundo de
sentimentos inesperados de parte a parte. Reconhecendo-a de imediato,
vai ao seu encontro com um sorriso radioso.
_ Olá Laura!
E num
impulso irresistível, beija-lhe os lábios suavemente.
_ Como
estás, Viriato? Pergunta a tentar disfarçar o efeito que o toque
dos lábios dele lhe provocou.
Sedutor, ele convida-a:
_ Vamos
almoçar aqui perto, querida?
Antes de aceitar Laura recorda que
apenas têm uma hora livre.
_ Não te preocupes, temos
tempo.
Saíram da rodoviária e entraram num restaurante. Viriato
disse qualquer coisa ao empregado, que os conduziu a uma pequena sala
à parte, local discreto e aconchegante.
O almoço decorre em
plena harmonia, entre sorrisos e vinho verde.
_ Não queres ir
antes ao fim da tarde? – Pergunta Viriato - Podíamos ir passear
que sou um bom cicerone, ou então para um sítio calmo e
descontraído. E sorriu malicioso.
Laura sente-se fascinada pela ideia.
Esquece a racionalidade e pulsa-lhe a vontade de entrar naquele jogo
de sedução. A companhia de Viriato estava a ser muito agradável.
Sente-se presa na armadilha daqueles sedutores olhos azuis e acaba
por dizer sim.
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Passaram
nove meses. Laura já não tem tempo, nem vontade, de frequentar os
chats da internet.