domingo, 17 de novembro de 2013

Sementes

Deixei minhas sementes plo caminho,
Nasceram sentimentos e emoções,
Despertaram em mim as sensações
Que, belas, se vestiram de alvo linho.
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Ecos de vendaval salteadores,
Tingem de pardacento o brando rio
Inundam de cor o prado baldio
Rejubilam no canto os beija-flores.
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Em momentos de grande calmaria
Cúmplice, em breve, floriu a amizade,
No cantinho mágico da alquimia.
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Sonhos renovam-se na tempestade
Surge a esperança ao nascer do dia
A bonança tráz em si a saudade.

sábado, 2 de novembro de 2013

Saudade


















Em cada alvorada,
Tecem-se palavras
De amor e carinho,
Que flutuam no céu.
Enlevam uma doce saudade,
Que faz latejar o coração.
O dia sorriu com pétalas de Sol,
Sobre o manto azul bordado a ouro e marfim,
Tatuando a palavra saudade.
Da essência do perfume…jasmim,
Chama de lanterna… luz que aqueceu a alma.
Saudade do tempo… sem tempo,
Acalentando esperanças vindouras.
Desmaia o dia, navega a noite na terra árida e fria.


quarta-feira, 9 de outubro de 2013

A menina e o piano(terceira parte)

- És uma chata, espera, dizia Ana mal-humorada continuando a ler e a comer o pão vagarosamente. Maria, sorrateiramente, deixou a prima sossegada e entrou em bicos dos pés no escritório. Sentada no banco do piano, colocou as mãozinhas nas teclas cor de marfim e convidou o seu amigo imaginário para se sentar ao lado e tocarem. Viajaram muito, tocaram em palácios e teatros, Maria era uma das mais famosas pianistas do mundo. -Acorda! Acorda! Sacudia-a a prima. - Anda brincar! -disse Ana que já tinha acabado de ler a banda desenhada. - Eu tive um sonho tão lindo! Queres ouvir? - Disse Maria esfregando os olhos. - Vem daí agora, vamos brincar para o quintal. Maria só gostava de brincar às casinhas, enquanto a prima adorava andar de bicicleta trepar as árvores, meter-se dentro do galinheiro e agarrar as galinhas e os pintos. E fazer festas no cão Baubi. Maria não alinhava nas brincadeiras da prima, era muito medrosa, era uma menina com medo de tudo. Mas a prima insistia: - Anda cá, eu ajudo-te a trepar à árvore. Estás a ver, não custa nada e assim temos o nosso cavalo. E cada uma na sua árvore fazia dela um cavalo. As primas adoravam-se, apesar de todas as diferenças que tinham uma da outra. Ana, sendo a mais velha é que dava as ordens e a pequena Maria obedecia, nem a prima permitiria o contrário. A casa do avô de Ana, naquela altura, era uma das poucas casas que tinha televisão. Tanto uma como outra adorava ver as pequenas séries que passavam na televisão, Lassie, Casei com uma feiticeira, mister Ed. Passavam momentos de grande diversão. Na hora das refeições, Ana preferia a comida da tia, avó de Maria, trocava o seu prato pelo da prima com bom agrado. Maria ficava sempre muito feliz com a troca. Quem não ficava muito contente com a troca era avó de Ana. Apesar da avó de Maria viver com a irmã faziam refeições e vidas separadas. E com um sorriso rasgado, a avó de Maria dizia à netinha: hoje saiu-te a sorte grande. Bife de vaca e batatas fritas não eram para o bolso dela. Ela trabalhava numa fábrica de vidro. Um dia, ao chegar a casa dos tios, Maria viu grande rebuliço, dois homens pegavam com dificuldade no piano para o carregar para um camião. Naquele fim-de-semana a Ana não tinha vindo. -O que se passa aqui avozinha? Perguntou Maria, assustada, ao ver o piano a ser carregado. O tio resolveu dar o piano ao neto Manuel, a tua prima não quer estudar piano. Disse ao avô que não queria ter mais aulas de piano. Como o Manuel desde sempre se mostrou interessado, o avô acabou por lhe dar o piano. -Satisfeita, menina curiosa? - E eu? Retorquiu a miúda. Eu gosto muito do piano, queria aprender a tocar piano como a Ana. O tio podia deixar o piano no escritório. Maria chorou muito ao ver o piano partir, mas o seu sonho não morreu ali, ninguém se importava com ela, mas não iria desistir de ser uma pianista famosa. Naquele fim-de-semana, não quis ficar em casa dos tios. Voltou para casa com uma profunda tristeza, escondeu da mãe o seu sofrimento, eles eram uma família pobre, e não podia inquietar a mãe com o seu sonho. Hoje, o piano enfeita a sala de estar dos pais do Manuel. Ele só queria ter o piano da prima. Havia uma rivalidade entre os primos. Os anos passaram, as duas primas tomaram rumos muito diferentes, sonhos se realizaram, sonhos adormeceram na alma. Maria mulher continua a sonhar. Fim

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

A menina e o piano(segunda parte)

Ana era uma menina de nove anos, nervosa e instável, andava sempre na corda bamba dos pais por causa das suas discussões constantes. Ana era muito bonita e inteligente, tinha cabelos compridos, encaracolados, castanho-claros, olhos castanhos e tinha um porte altivo. Maria sentia por vezes uma ponta de inveja, ela queria ser como a prima. Era o seu ídolo. Ela era apaixonada por livros de príncipes, princesas e fadas. Achava que a prima era parecida com uma daquelas suas princesas. Os seus cabelos sempre bem penteados, encaracolados, caídos pelas costas, os vestidos de cambraia e seda enfeitados por laços de veludo, com muita roda. Simplesmente maravilhosos. Os seus eram feitos de chita às florinhas, simples e, quando a prima lhe dava as roupas que já não usava, Maria saltava de contentamento. Quando a aula de piano acabou, as duas pequenas foram imediatamente para o quintal. Ana, irritada, desabafou com a prima que não queria continuar com as aulas de piano. Eram uma maçada. Gostava de tocar de ouvido, mas detestava as aulas e praticar as escalas. O seu avô não compreendia que ela não podia concretizar o seu sonho. Ela não iria tocar mais. Podia dar até dar o piano ao primo Manuel, que, sempre que ia lá casa, namorava o piano. - Pensava que gostavas de tocar piano. Disse Maria tristinha. -Tocas muito bem! E a prima, firme na sua decisão, disse: - Para mim acabaram as aulas de piano. O sonho do meu avô era que os filhos tocassem piano, mas eles não quiseram. Quando ele era pequeno, ouvia a vizinha a tocar piano e, fascinado pela suave música, espreitava a pianista pela janela. Prometeu a si próprio que, quando fosse grande, compraria um piano. Mas era muito pobre e teve que trabalhar muito para comprar o piano. Quando o meu pai tinha 15 anos, ofereceu-lhe esse piano, mas o meu pai nunca quis aprender. Pensou que eu iria realizar o seu sonho. Está muito enganado. Disse arrogante. -Crianças, venham lanchar! - Chamava avó de Ana. Ana tinha mais dois anos do que Maria, andava num colégio particular de freiras em Lisboa. Já sabia ler e escrever corretamente. O avô, quando trazia o jornal, dava-lhe sempre a folha que trazia os desenhos animados. Momento sagrado em que Ana se isolava e não dava importância à pequena Maria que andava à volta dela. Priminha, já acabaste de ler? Eu quero brincar. continua...

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

A menina e o piano

Era uma vez uma menina, chamada Maria, tinha sete anos e andava na primeira classe. Ela tinha cabelo muito curto, liso e castanho-escuro, olhos azuis e um sorriso tímido a fazer sobressair as bochechas coradinhas. Vivia em sítio ermo, numa pequena casa azul com a mãe, padrasto e um irmão bebé. Não tinha amigas ali por perto a não ser a sua boneca de trapos dada pela avó, num dos anos em que tinha ido com ela para as termas. Por causa do seu reumatismo, era o bálsamo para as suas dores. Maria tinha um amiguinho imaginário, brincavam muito, viajavam juntos para a terra dos sonhos e tinham longas conversas. A amizade deles era profunda. Maria, ansiosa, contava pelos dedos das mãos os dias que faltavam para ir ter com a prima. Fazia seis quilómetros da sua casa até ao centro da aldeia para brincar com a prima, que vinha de Lisboa com os pais todos os fins-de-semana. As duas primas encontravam-se na casa da avó de Ana, que era irmã da avó de Maria. A avó de Maria era viúva e a sua irmã convidou-a a viver com ela. O seu marido andava sempre em viagem e os seus dois filhos viviam distantes. A avó de Maria tinha um grande carinho pelo cunhado e tratava-o por mano, apesar de serem primos. As suas mães eram irmãs. Família abastada, era conhecida na aldeia pela sua generosidade. Originária de uma família humilde, com esforço, dedicação e muito trabalho, tinha criado o seu próprio negócio. Numa tarde chuvosa e cinzenta, Maria beijou a mãe e o irmão, o padrasto estava a trabalhar, era vidreiro, e com o seu xaile, saiu de casa rumo à aldeia, com o seu coraçãozinho apertado. Era uma menina medrosa, mas a vontade de brincar e estar com a prima vencia o medo Uma doce música chegou aos seus ouvidos a poucos metros da casa dos tios. Ana já tinha chegado e tocava piano enquanto esperava pela priminha. A tia, mulher rica e dominadora, abriu-lhe a porta. -Entra, entra, já vens atrasada, a tua prima está na aula de piano! Disse orgulhosa. Timidamente cumprimentou toda a família e pediu ao tio se lhe dava licença para ir ter com a prima. Com um sorriso nos lábios, o tio indicou-lhe a porta do escritório. Cautelosamente, abriu a porta e sentou-se num banco ao ver a prima a tocar piano. Os seus olhitos azuis-claros admiravam a agilidade com que os dedos da prima dançavam pelas teclas do piano. Ana tinha aulas particulares de piano. Ana achava-as um aborrecimento, enquanto a pequena Maria estava maravilhada, ela tinha muitos sonhos, um deles era ser pianista quando fosse grande. Tinha uma grande fascinação pelo piano. Continua....

domingo, 19 de maio de 2013

O Morcego Fred

Era uma vez um morcego pequeno, pardo e com olhos grandes, orelhas pequenas, focinho e língua compridos. O nome era Fred, vivia, com as suas quatro fêmeas, num tronco oco de uma velha árvore. Todos os dias, ao entardecer, saía do seu esconderijo em busca de comida. Debaixo de um céu estrelado, voava, saltava, à procura de flores, que desabrochavam durante a noite, e de insetos. Ao longe, avistou uma sombra e, com os dentes afiados, aterrou no lombo de um pequeno animal. - Sai do meu lombo. Disse o bezerro a berrar sem parar. - O que tens, porque choras? Perguntou o morcego carinhoso. -A minha mãe esqueceu-se de mim. - Disse o pequeno bezerro assustado. - Eu quero a minha mãe, tenho fome e não sei o caminho da quinta. Quem és tu? - Perguntou o pequeno bezerro. O bezerro era conhecido por Malhadinho, pelas suas inúmeras manchas, olhou para aquele mamífero voador, repelente e de dentes afiados, e arrepiou-se. -Tímido, Fred disse. – Não tenhas medo, apesar da má fama que temos, sou uma criatura boa e inofensiva, só mordo quem me atacam. Gosto de comer insectos e flores com a minha língua comprida, uso-a também para lamber o pólen e o néctar. Está descansado, não me alimento de sangue, mas tenho primos raivosos que sugam o sangue dos animais. Mas eles vivem muito longe daqui. Podes ficar descansado. -Agora vou tratar da minha barriguinha. Já volto! Voou, voou, comendo, guloso, todos os insetos que se cruzavam com ele no ar. Depois da barriga cheia, voltou ao sítio em que o bezerro ficara. Mais calmo, o bezerro ansiava pelo regresso do seu novo amigo. - Toma, come esta maçã, é muito saborosa, disse o Fred, e deixou cair a maçã, em frente do pequeno animal. -Eu só quero leitinho! Berrava o Malhadinho. _- Ora, ora, não sejas esquisito. Come esta deliciosa maça e estas ervinhas tenrinhas que estão aqui na tua frente. Senão ficas doente. Amanhã, a tua mãe voltará para perto de ti. E o bezerro, obediente, comeu com satisfação a maçã madurinha. Todos os dias os animais eram levados para o prado muito cedo, pelo capataz, e passavam lá o dia todo. Mãe e filho eram muito próximos pela terna idade do filhote. O Malhadinho era viciado nas tetas da mãe e fazia sempre birra para comer outros alimentos. Naquele dia, a vaca Mimosa ia muito distraída, a pensar como tinha ficado impressionada por aquele boi, bonito e forte, novo no pasto, nem tinha dado conta que pequeno bezerro não caminhava ao seu lado. Bem-disposto e conversador, o morcego fez companhia ao novo amigo até ele adormecer, quando o dia começou a raiar, voltou para o seu esconderijo. A vaca Mimosa estava muito preocupada. Tinha esquecido o filho no prado e não tinha sido cuidadosa, devia ter ensinado o filhote o caminho da quinta. E o filho, por culpa dela, estava sozinho ao frio e cheio de fome. No dia seguinte, ao nascer do dia, o capataz da quinta, levou o gado de volta para o prado, a vaca Mimosa, ao ver o seu filhinho, saltou de contentamento e correu para ele. Ele, imediatamente, atacou as tetas da mãe. O pequeno bezerro todo o dia esperou, ansioso, pelo seu amigo morcego, mas ele não apareceu, será que se tinha esquecido dele. Ele não sabia que os morcegos só saiam ao entardecer do dia e à noite. Quando a mãe viu o seu filhote tão triste, perguntou-lhe o que se passava. Ele contou à mãe que, graças ao morcego, tinha sobrevivido aquela noite no prado. Ao fim da tarde, a vaca Mimosa escondeu-se com o seu filho, enquanto o capataz reunia os outros animais. Mãe e filho ficariam à espera do morcego. Queria agradecer ao pequeno voador o ter tomado conta do Malhadinho. Fred, bem penteado e arrumado, voltou ao local onde tinha encontrado o bezerro, e qual não foi o seu espanto e alegria ao reencontrar o pequeno Malhadinho, desta vez com a mãe. Mimosa agradeceu ao morcego por ter cuidado do seu filhote e ensinou-lhe o caminho do estábulo para o ir visitar sempre que quisesse. O morcego, para ficar mais perto do Malhadinho, mudou-se com as suas fêmeas para a quinta, encontrou um lar num celeiro velho e vazio. Empoleirado, com a cabeça para baixo e sempre atento, os dois amigos passavam horas conversar e a brincar. Os outros animais ficavam sempre inquietos com a presença do Fred, mas a vaca Mimosa e o filho defendiam o amigo, dizendo que ele era bonzinho, inofensivo e um grande controlador de insetos e ainda ajudava a eliminar os ratos. Malhadinho, sempre atento ao que se passava ao seu redor, avisava o amigo quando sabia que iria haver perigo para ele e sua família: os trabalhadores usavam pesticidas nas plantações e ele não queria que o Fred morresse nem a sua família. Com o tempo, a quinta ficou mais bonita cheia de flores polinizadas pelos novos inquilinos. Fred foi aceite por todos. Malhadinho rebola divertido e feliz, o seu amigo era maravilhoso, inteligente e muito útil à quinta. O capataz habituou-se a ver os morcegos pela quinta e mudou a opinião sobre eles. São animais feios, mas muito valiosos.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

A Borboleta Vaidosa

Duas irmãs gémeas viajavam com os pais pelas simpáticas terras do Alentejo. O pai conduzia o carro devagar e os olhares, deslumbrados, deleitavam-se com a bela paisagem, um sol mais dourado a cair sobre os campos de trigo amarelo, salpicados pelo encarnado garrido e exuberante das papoilas. Uma das gémeas estava muito irrequieta. Ao fim de algum tempo, não resistiu e pediu ao pai para parar um bocadinho. Queria surpreender a mãe com um ramo de flores, pequeninas, roxas e azuis, que enfeitavam a beira da estrada. Rendido à beleza e à tranquilidade, o pai fez-lhe a vontade e parou o carro. -Vamos sair um pouco! O pai aproveitou a paragem. Tinha uma grande paixão pela fotografia e pelas viagens. Tirou do porta-bagagem a mochila com os apetrechos fotográficos. Enquanto montava e colocava tudo em ordem para fazer umas boas fotografias, as gémeas, de cabelos ao vento e com vestidinhos coloridos, pularam de dentro do veículo, correram em direcção às borboletas que esvoaçavam em redor das flores, a beber o pó da vida. Com o tripé às costas, o pai das pequenitas disse à família até já e perdeu-se pelos campos dourados. As papoilas vermelhas, de olhos negros, baloiçavam ao ritmo do vento. Borboletas, mariposas pousavam aqui e ali e as pequenitas, radiantes, corriam atrás delas. Os grilos e as cigarras cantavam alegremente numa desgarrada, naquele inesquecível entardecer. -Venham cá, meninas! -Gritou a mãe. Não podem perseguir as borboletas. Sentem-se aqui, por favor. Fisicamente as gémeas eram muito aparecidas, mas tinham um temperamento muito diferente uma da outra. Contrariadas, obedeceram à mãe. De cores vivas, as borboletas dançavam um bailado sem compasso, enquanto as meninas comiam, com apetite, deliciosas bolachas de limão, receita típica do alto Alentejo. Malfada, assim se chamava uma das gémeas, reparou que, um pouco mais afastada, estava uma borboleta a esvoaçar, multicolorida, a mais bela borboleta que algum dia tinha visto. Pairava com elegância sobre uma flor a beber o seu néctar. -Vem dançar connosco, não fiques aí sozinha Disse uma mariposa gentilmente à bela borboleta. -Não te aproximes de mim, eu não falo com borboletas nem mariposas insignificantes. – Disse a borboleta vaidosa com desdém. Aquela borboleta era muito vaidosa e egoísta, nem com a própria família falava. De uma beleza rara, achava-se muito importante e o seu sonho era ser famosa. Sempre sozinha, a esvoaçar constantemente, mostrando a todos como era a mais bela borboleta e a mais poderosa. O pai das gémeas regressou muito satisfeito com o seu trabalho. Levava na máquina belíssimos registos, para colocar na sua página na internet para dar a conhecer aos amantes da natureza a região do Alentejo. A mãe, com um sorriso nos lábios, chamou pelas filhotas. -Meninas, venham! Vamos embora. Tomaram rumo ao sítio onde estavam hospedados. Era um recanto maravilhoso, como tantos outros que existem espalhados por todo Alentejo. Depois de entrarem no carro e da mãe ter apertado os cintos de segurança, a pequena Mafalda disse muito baixinho para a irmã. -Tenho aqui uma borboleta muito bonita. Dá-me a caixa de madeira que tem os lápis de cor. -Mostra lá a borboleta! Ela vai morrer. - Disse Carolina, curiosa. Com muita perícia e jeitinho, colocaram a borboleta na caixa dos lápis de cor. A borboleta pediu socorro às outras borboletas e mariposas, mas ninguém a ouviu. Quando se apanharam finalmente a sós no quarto, tiraram a borboleta da caixa e colocaram-na num frasco de vidro. Trocaram ideias e opiniões sobre a nova vida da borboleta. Acerca do nome da borboleta, concordaram que se chamaria ”arco-íris” pelas suas lindas cores e a nova casinha ser a caixa dos lápis de cor. Iria viver com elas para Lisboa. - Oh mana! As borboletas não podem estar fechadas. - Disse a Carolina, muito triste, ao ver a borboleta a esvoaçar contra o vido do frasco. No dia seguinte, a borboleta tinha perdido as cores, as asas estavam esbranquiçadas, mal podia levantar-se. A borboleta lutava, desesperada, para não morrer. Chorava e prometia ser humilde para todos os que a amavam. -Olha bem para a borboleta, está a ficar doente. Põe a borboleta a voar. Disse a Carolina com muita pena da bela borboleta. - Anda, anda, vamos nadar. Disse a Mafalda. A mãe foi arrumar o quarto das gémeas, enquanto elas estavam na piscina. Encontrou a borboleta no frasco de vidro, desmaiada. O pai, sentado à sombra dum chaparro, saboreava um copo de vinho, dos bons vinhos da região, alheio ao que se passava. Desfrutava plenamente da beleza arrebatadora daquele maravilhoso sítio, que tinha escolhido para passar umas mini férias com a família. Repimpadas à beira da piscina, as gémeas ouviram a mãe a chamar, forte e a bom som, e correram ao seu encontro. Quando viram o frasco, perceberam que tinham sido descobertas. - Quem fez isto? Perguntou a mãe zangada. As duas irmãs olharam uma para a outra e responderam: encontramos esta bonita borboleta e, como não podemos ter animais em casa, pensamos ter uma borboleta. - Venham cá, sentem-se aqui e olhem bem para o frasco que está na minha mão. Isto que vocês fizeram, é uma grande maldade. As borboletas não podem estar fechadas, elas têm que voar. É uma beleza para ser vista no ar. Entendem, crianças? No nosso apartamento não podemos ter animais, não temos condições. Os pais trabalham e as meninas andam na escola. Regressamos a casa, todos os dias, muito tarde. Os animais, sejam quais forem, têm que se sentir acompanhados e felizes. Não foi difícil convencer a Malfada. Ela abriu o frasco, deixou a borboleta sair. Vai, vai, borboleta, ao encontro da tua família e dos teus amigos, não te esqueças de ir dançar com os teus amigos. Abraçou a mãe, pediu desculpa e prometeu que não voltaria a fazer o mesmo. Mas, quando fosse grande, teria uma quinta com muitos animais. Mãe e filhas abraçadas juntaram-se ao pai que não se cansava de gabar aquele sítio paradisíaco. A borboleta esvoaçava satisfeita e divertida, em direção aos campos dourados de trigo. Com humildade, pediu às irmãs e primas” borboletas” e “mariposas” se podia brincar com elas. Sim, vem fazer parte do nosso bailado. A borboleta não contou o que lhe tinha acontecido, mas pediu desculpa, em frente de todos, pelo seu comportamento e prometeu a partir daquele dia ser amiga e generosa. De regresso a casa, as gémeas pensaram na aventura que tiveram com a borboleta, ela iria ser muito infeliz fechada e acabaria por morrer. E a vida não estás nas mãos de ninguém. - Espero que a borboleta tenha aprendido com o susto que teve. Devemos cativar os amigos, a vida sem amigos é muito triste. - Disse Malfada, abraçando a irmã. Correram uma atrás da outra, radiantes, e juntaram-se aos pais na sala. Viam na televisão uma reportagem sobre a região alentejana, um manto de flores era o palco de um bailado de borboletas, entre elas estará a “arco-íris” arrependida, linda e singela.