segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

O Gato Bill e o rato Zé

Era uma vez um rato chamado Zé que vivia no campo, sozinho, num dos buracos de um velho casarão desabitado e com mais de 400 anos. Zé era o rei daquele território, mas vivia muito triste porque não tinha amigos. Um dia tinha ele acabado de acordar quando ouviu um barulho estranho vindo do casarão. Esfregou os olhitos, apurou os ouvidos e sorrateiramente saiu do seu buraco. Cautelosamente entrou na casa e viu por ali um grande reboliço. Uma grande família tinha invadido o seu espaço, pais, filhos e netos, entravam e saiam trazendo para dentro de casa cestos e malas. Olhando ao seu redor, chamou-lhe a atenção uma bola de pêlo vermelho alaranjado sentada perto da lareira. De repente, viu uns olhos brilhantes e uns grandes bigodes e escondeu-se, reconhecendo o seu inimigo. Atento ao seu redor, viu um dos homens fazer um carinho ao gato: “Meu velho Bill doentinho” disse ele “fica aqui sossegado” e o gato ronronou, sinal que estava feliz. Bill tinha sido um belo felino, sempre bem-humorado mas implacável com o inimigo. “Estranho” pensou o rato “a bola de pêlo não dá pela minha presença” e pé ante pé foi-se aproximando-se mais do gato, fazendo piruetas à sua frente. Este abriu os olhos, fez um pequeno som de miau e continuou a dormitar. A mesa da sala de estar estava coberta com figos, frutas, bolos, queijo e mel. Maravilhado, o rato do campo bendizia a vinda daqueles estranhos. Saltou e dançou de contentamento. O seu estômago estava cansado de comer trigo e ervas. Confortável no seu lugar, o gato Bill observava discretamente o rato Zé a deliciar-se com aquelas boas iguarias, mas não se incomodou e voltou a fechar os olhos. Ria, uma das meninas, vê o rato a pular para a cadeira e grita: “Bill, apanha o rato!” mas o gato nem abriu os olhos. Assustado ao ouvir a pequena Ria, o rato Zé desapareceu velozmente. Isto não fosse a bola de pêlo obedecer e começar uma corrida desenfreada entre eles... o que não aconteceu. Os dias passavam alegres para o ratinho. Tinha boa comida e mudou-se para um buraco da cozinha, sítio mais quentinho. Zé ainda não estava convencido de que o pobre Bill estava velho e doente e pensava que podia ser uma ratoeira, de modo que com esperteza, aproximou-se do gato e deixou no prato um pedaço de queijo. O gato um pouco molengão, bufou, saltou ligeiramente e levou o queijo à boca. Assim, dia após dia, nasceu entre eles uma amizade. Todos os dias o rato do campo visitava a bola de pêlo vermelho alaranjado, e radiante deixava sempre um presente no prato do seu novo amigo. Bill levantava a patinha a muito custo, como dissesse obrigado. Ria, sentada no velho cadeirão, observava os dois animais; o rato chiava, o gato miava, como que a cumprimentarem-se. “Avô”, perguntou ela, “então o gato e o rato não são inimigos?” “Na amizade não há raças nem cores, simplesmente acontece.” Respondeu o avô com um sorriso rasgado, acariciando o cabelo louro da neta. E para sempre, naquele velho casarão perdido no meio do campo, reinou a paz e a felicidade entre humanos e animais.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Maravilhoso fim de semana



Era uma vez duas meninas Beatriz e Inês. Eram irmãs gémeas. Tinham sete anitos, andavam na segunda classe e gostavam muito de pregar partidas aos amigos, fazendo-se passar uma pela outra.
Convidaram uma amiguinha da escola para passar o fim-de-semana com elas.
Ansiosas, as gémeas contavam pelos dedos os dias que faltavam para estarem as três juntas. Beatriz queria mostrar à amiga um sítio especial, o seu lugar preferido, quando estava zangada ou tinha necessidade de falar com o seu amiguinho imaginário. Refugiava-se em cima do telhado da enorme casa de bonecas que estava na varanda do andar onde viviam. Inês tinha uma outra ideia e queria pô-la em prática sem falhar o seu objectivo. Pediu à mãe para fazer as bolachas que costumam fazer na época de natal. Mãe e filhas passaram a tarde a fazer as bolachinhas e mais um bolo de chocolate para presentear a visita especial, a amiguinha Mafalda.
Pela primeira vez, tinham uma amiga a passar o fim-de-semana com elas. Era preciso pensar onde a amiga iria dormir, pois a cama delas era pequena para três pessoas. Mas Beatriz teve a brilhante ideia de pedir à mãe para colocar o colchão que tinham de reserva no meio da cama delas e assim tinham a amiga mais próxima delas. O dia chegara finalmente e as pequenitas estavam muito contentes e tinham acabado de terminado as tarefas escolares antes de Mafalda chegar. Já podiam ir brincar descansadas, iriam aproveitar o tempo para as suas brincadeiras favoritas.
A campainha toca às três horas em ponto daquele inesquecível sábado. Com um brilho nos olhos, as duas irmãs abrem a porta acompanhadas pela mãe.
Brincaram tanto que nem lanchar queriam, não fosse a mãe lembrar que tinham que comer senão não teriam força para continuarem a brincar. O tempo passou rápido e já eram horas de irem dormir. Pela primeira vez, dispensaram a história habitual que a mãe ou o pai lhes contam antes de adormeceram.
A mãe das gémeas recomenda que são horas de dormirem para no dia seguinte poderem continuar a brincar até os pais da Mafalda a virem buscar.
Passados uns minutos, a Inês incentiva a irmã e a amiga a irem à cozinha comer umas bolachinhas. Sim vamos, disse a irmã, mas Mafalda fica em silêncio. As gémeas levantaram-se pé ante pé dirigiram-se à cozinha. Mafalda, aflita, diz ter medo do escuro. Beatriz prontificou-se a acender a sua lanterna. Não faças isso que os pais acordam. Mafalda não tenhas medo o escuro, é o contrário do claro. Voltou para traz e pegou na mão da amiga, anda lá, não tenhas medo. A mãe diz que é natural as crianças terem medo, faz parte do nosso desenvolvimento. A mãe também confessou que, quando era criança, tinha medo do escuro e dormia com os seus bonecos preferidos. Eles davam-lhe segurança.
Levaram as bolachas para o meio da sala e, sentadas em almofadas, comiam com apetite as bolachinhas de natal. Não resistiram ao cansaço e acabaram por adormecer.
Os pais da Inês e Beatriz, que estiveram sempre atentos, levaram as miúdas de volta para a cama. Mafalda sentiu o conforto de uns braços, aninhou-se, e começa a falar muito baixinho, não tenho mais medo do escuro. Emocionada, a mãe das pequenitas beija Mafalda ao deitá-la na cama provisória.
O casal abraçado, com um sorriso nos lábios, olha embevecido para as três crianças que dormiam profundamente.
Elas são a alegria e a pureza da nossa vida.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Na margem



Um olhar perde-se num casal de idosos que passeavam à beira-rio, de mãos dadas. Devagar e com os passos incertos, eles inalam a serenidade daquele lugar paradisíaco.
Sem se aperceberem que são observados, o homem diz para a sua companheira:
_Dá - me um beijo, meu amor? Pediu ele com um sorriso maroto.
_Cuidado, pode aparecer alguém! Responde confrangida - olhando ao seu redor.
_Sempre que vimos aqui passear dizes o mesmo. Disse sorrindo.
Ela volta a olhar em redor e como não vê ninguém próximo, oferece-lhe os lábios.
Com o olhar cheio de ternura e delicadeza nos gestos, beija-a suavemente como fosse um sopro de vida.
_ Pronto, pronto, diz ela, afastando-se um pouco.
¬Continuam o passeio de mãos dadas com um brilho nos olhos e um sorriso nos lábios
_¬_ O que te faz lembrar estes momentos? Pergunta ele sereno como o mar antes da tempestade.
Depois de uns minutos responde:
_A nossa juventude.
Com um sorriso luminoso deixa-se ir na corrente infinda das lembranças.
Na sua mente, naquele momento, perpassa um casal de jovens num outro rio numa outra margem em que ele corria atrás dela. Ela tinha o cabelo num rabo-de-cavalo, mostrando todos os suaves contornos do rosto atraente.
_Apanhei-te! Disse ofegante e roubando -lhe um beijo.
Ao princípio ficou surpreendida, mas relaxou e começou a corresponder ao beijo intensamente.
Ele queria perder-se nela. Relevar a sua essência dentro dela, tornar-se parte do espírito e do corpo dela.
Uma lágrima desliza mansamente trazendo um misto de saudade e felicidade. Aperta a mão do marido com mais força.
Ao longe várias mãos acenam-lhes. Com alegria no coração caminharam em direcção aos filhos e netos.
Uma voz curiosa pergunta:
_O que andaram a fazer?
O homem responde a sorrir, e abraça a esposa.
_ A namorar uns lindos olhos azuis e este sorriso maravilhoso da tua avó.


singularidade

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Rosas


Rosas,
enfeitam
alegram
perfumam a vida.

Rosas,
beleza
magia
paixão
nas veredas do coração.


Rosas,
desfolhadas
secas
inundam os olhos
de lembranças.

E retêm
as fontes de alegria.



singularidade

sábado, 3 de abril de 2010

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Amizade

Na imensidão do infinito, vaga sozinha e fita ao longe uma sombra nos corredores da solidão.
Timidamente pergunta-lhe com ternura:
Vamos?
Despede-se de si.
De mãos dadas, as palavras surgem, como notas de música, deixando-se embalar em novos caminhos num cativar, o cultivar dum tesouro chamado Amizade. Quer acolher o abraçar com todas a forças, o milagre do calor humano.
Dá-se por inteira sem limites, a amizade toma conta dela, faz vibrar todas as cordas do coração. Tem o mundo nas mãos, é um caminhar entre luzes e esperança.
Na soleira do desconforto, com a dor da injustiça, continua a esperar… Banha-se em desilusão. Uma angústia cresce num canto da alma, enfeitando-a de indiferença.
De súbito, um raio de sol enche-lhe a alma e o coração, o céu sorri.
Veste-se de luz, corre, voa nas asas da Amizade.

singularidade

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Terra devastada


Terra devastada
Num ápice
Pelo dono legítimo
O caos no horizonte.
Vozes gritantes
Inundações de medos
Desbravam esperanças
Num apelo à vida.
De mãos dadas
Nó na garganta
Coração apertado
Esforços
Petrificam emoções
De dor
De sofrimento.
Na luta contra o tempo
A ressuscitar um novo alvorecer.


singularidade