quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O gato Didi

Era uma vez uma Senhora galinha cor de mel que vivia muito triste.
Desde que o dono trouxera para o galinheiro um novo companheiro, que a sua vida mudou.
Vivia feliz com as suas amigas e todas gostavam dela até àquele dia fatídico.
O Sr. Galo era louco e agressivo, dava-lhe bicadas a todo o momento. Não sabia a razão porque o Sr. Galo não ia com a sua cara. Talvez por não lhe ter ligado nenhuma quando ele entrou no galinheiro pela primeira vez, todo vaidoso e pomposo.
Ao contrário das suas amigas que, quando o viram, fizeram-lhe uma vénia e ele, todo emproado e refilão, gritou:
-Cocorocó!
Ele cativou-as logo com a sua beleza, as cores das suas penas eram como um arco-íris e era um bem-falante. Mas tinha um grande defeito, era presunçoso.
Todos os dias havia alvoroço no galinheiro, o Sr. Galo e a Sra. Galinha cor de mel nunca mais se entendiam e o dono decidiu prender o Sr. Galo por uma perna. Caso ele não mudasse de atitude, já tinha a sentença lida, ia devolvê-lo à vizinha que o tinha dado com todo o prazer. Era o melhor galo que tinha na sua capoeira para namorar as suas galinhas.
Cada dia que passava sentia-se mais humilhado perante as suas companheiras.
Rezingão, ameaçava a Sra. Galinha cor de mel.
_ Não esperas pela demora, logo que anoiteça vais ver o que te faço, galinha ranhosa.
Disse com tal fúria de vingança que a galinha cor de mel encolheu-se no poleiro, cheia de medo.

As amigas deixaram de lhe falar e olhavam para ela com desdém e cochichavam entre elas quando ela passava.
Ela não tinha paciência para tanta hipocrisia e, sorrateiramente, saiu do galinheiro, quando apanhou o Sr. António distraído.

Seguindo o caminho pela horta, encontrou umas couves tenrinhas, debaixo da nogueira, e logo as começou a depenicar gulosamente.
Depois do papo cheio, continuou o seu passeio quando ouviu um miar muito fraquinho. Correu para ver o que se passava e qual é o seu espanto quando vê um gatinho bebé a tiritar de frio, encostado a um monte de feno.
Cheia de pena e cautelosamente, aproximou-se dele. Aconchegou-o debaixo da sua asa para o aquecer. O Didi, assim se chamava o gatinho, era uma gracinha. Parecia um novelo de lã preto e branco com uns olhos brilhantes cor de esmeralda. Durante um tempo, o gatinho manteve-se calado e sossegado. Não sabia as horas mas tinha que regressar à capoeira, ainda davam pela sua falta e sujeitava-se a ficar com as asas cortadas. Despediu-se do gatinho e voltou para o galinheiro. Com tristeza, ele seguia-a à distância.
De repente, ouviram uns passos! Era o Sr. António que passava pelo local.
Finalmente encontrei-te! - Disse o camponês satisfeito ao olhar para o Didi.
_ Andas por aqui perdido, Didi, onde está a tua mãe? Pegando nele ao colo.
O gatinho miava continuadamente.
-Vem comer e aquecer-te ao borralho. Entretanto a tua mãe aparece.

De regresso ao galinheiro, a galinha cor de mel ia muito alegre, tinha feito uma boa acção, salvou um gatinho, ele podia ter morrido de frio. Nem a porta fechada do galinheiro lhe tirou a alegria. Olhou para todos os lados e, como não viu ninguém, entrou a voar.

A partir daquele dia, o Didi e a galinha ficaram amigos.
Todos os dias o gatinho Didi olhava de longe a sua amiga Galinha e ficava muito triste quando o Sr. Galo a picava sem dó nem piedade. Ele não podia fazer nada contra o Sr. Galo, mas podia consolar a amiguinha.

Fez tantas tentativas para entrar no galinheiro que um dia esticou-se tanto que coube no buraco da rede, e fez-lhe uma festinha com a pata na asa. Ela sorriu e ofereceu-lhe a asa para se esconder do Sr. Galo, que naquele momento ia a passar.

Sr. António admirava o cenário, já há algum tempo, e disparava a máquina fotográfica sem parar, para um dia mostrar às sobrinhas, Beatriz e Inês, que a amizade simplesmente acontece.



singularidade

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

O polvo feio(conto infantil)

Era uma vez, duas meninas que estavam sentadas na praia. Elas trabalhavam muito a construir um castelo de areia que o tio lhes tinha ensinado a fazer, quando de repente, veio uma onda e destruiu tudo reduzindo o castelo a um monte de areia e espuma.
-Oh! -disse uma delas.
-Não fiques triste, vamos construir outro.
Os pais vigiavam as crianças à distância.
-Vamos molhar os pés? Desafiou uma delas.
-Não mana, a mãe avisou-nos para não sairmos daqui.
- A mãe neste momento não está a olhar para nós. – Disse quando já corria para o mar.
De repente, parou a meio caminho e pôs-se a olhar para um grande rochedo não desviando os olhos de lá. Dele vinha uma luz muito forte.
- Anda mana! Eu não vou molhar os pés. Vamos antes àquele rochedo.
De mãos dadas, as crianças aproximam-se do rochedo e avistam uma linda mulher, de olhos verdes e de longos cabelos pretos, sorrindo para elas. Penteava os cabelos com o seu pente de ouro. Na testa tinha uma estrela cintilante.
As meninas não conseguiam desviar o olhar, estavam enfeitiçadas em frente de uma bela sereia. Com uma voz doce e melodiosa, diz-lhes:
-Meninas, aproximem-se mais! Querem ver os peixinhos? Posso levá-las na minha cauda a dar um passeio.
As crianças hesitaram mas em seguida recusaram o convite.
- Não podemos, a nossa mãe vai ficar preocupada. – Disseram em simultâneo.
- Eu sou uma sereia boa, chamo-me Sirena. Confiem em mim. Não vamos demorar. E a vossa mãe está entretida com os vossos avós e nem vai dar pela vossa ausência.
As meninas, contentes com a ideia de verem os peixinhos no fundo do mar, acabaram por aceder esquecendo o aviso da mãe. A sereia olha-se ao espelho, sorri e depois convida-as a subirem para cima dela, mergulhando de seguida no mar sereno. As meninas iam encantadas no lombo da sereia com os olhitos bem abertos para verem bem os peixinhos. Os seus olhos espraiam-se e vêem lindos corais, anémonas, ouriços-do-mar, cavalos-marinhos e outros peixes multicores. Estavam maravilhadas com tanta beleza e empolgadas fazem perguntas à sereia que, paciente e docemente, responde a todas as perguntas. Estavam tão entretidas que nem deram pelas horas passarem, mas o estômago de uma delas lembrou que era hora de comer.
-Tenho fome, quero voltar para a mamã.
-Tens razão, são horas de voltar. Disse a sereia com um sorriso maléfico.
A sereia deu meia volta e tomou rumo numa outra direcção. Um majestoso palácio apareceu em frente delas. - Os nossos pais não estão aqui. Eles ficaram na praia. A sereia malévola responde: - A partir de agora ficam a morar neste castelo comigo. Ao ouvirem a sereia as meninas começaram a gritar pela mãe sem parar. Queremos a mãe. - Dizem chorando.
Com violência a sereia abanou-as de cima dela, e caíram no chão.
- Calem-se, calem-se. – Ordenou furiosa.
Em frente à sereia quase que desmaiam de susto, a sereia linda tinha-se transformado numa sereia horrível. Tinham sido enganadas pelo seu encantamento, afinal era uma sereia má.
As duas irmãs, agarradinhas uma à outra, não paravam de gritar: -Socorro, mãe, socorro avozinha! Venham-nos salvar. Queremos ir para a nossa casinha.
-Aqui ninguém jamais vos irá encontrar. Ficarão à minha mercê.
Fechadas nas masmorras do castelo, as duas começaram a pedir e a implorar ajuda, durante algum tempo, mas não resultava. Ninguém apareceu e elas estavam tristes e desesperadas com a sua sorte.
Passados uns minutos a Sirena voltou com uma bandeja de algas, peixe e ostras.
-Quero tudo comido, vocês estão muito magrinhas. Têm que ficar bem gordinhas. E saiu batendo a porta com força.
Cheias de fome comeram tudo e adormeceram.
De repente, acordam assustadas, na sua frente estava um polvo enorme, gigante a velar-lhes o sono e a sorrir para elas. Encolhidas e a tremer agarram-se uma à outra e mal conseguiam articular a palavra “monstro”.
-Não tenham medo da minha feiura. Vou levá-las aos vossos pais antes que a sereia venha, confiem em mim. - Disse docemente
-A sereia Sirene diz que ninguém consegue tirar-nos daqui. Disseram a soluçar.
-Eu consigo, querem ver?
As manas disseram sim abanando a cabeça Então, o polvo aproximou-se delas devagarinho, muito devagarinho, e carinhosamente enrolou os seus tentáculos na cintura delas e os três saem por onde ele tinha entrado, ou seja, pelas grades da janela que ele arrancara com a força dos seus tentáculos. Sorridentes e com a esperança no coraçãozinho, regressam à praia, acreditando na lealdade do polvo.
Quando chegaram correram para o areal e despediram-se dele com carinho, agradecendo e pediram-lhe para visitá-las, ele com um sorriso meigo promete voltar um dia.
Sentaram-se um bocadinho a descansar.
-Ufa, ufa, ufa, que grande aventura, os nossos amiguinhos nem vão acreditar. Disse uma das irmãs ainda trémula. A outra retorquiu:
-Segredo nosso.
Nisto ouvem a mãe:
Beatriz, Inês, onde estão? Grita a mãe aflita.
As meninas saíram detrás do rochedo.
- Aqui, mãezinha, aqui.
E correram para os braços da mãe, rindo de felicidade.


singularidade