sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Na margem



Um olhar perde-se num casal de idosos que passeavam à beira-rio, de mãos dadas. Devagar e com os passos incertos, eles inalam a serenidade daquele lugar paradisíaco.
Sem se aperceberem que são observados, o homem diz para a sua companheira:
_Dá - me um beijo, meu amor? Pediu ele com um sorriso maroto.
_Cuidado, pode aparecer alguém! Responde confrangida - olhando ao seu redor.
_Sempre que vimos aqui passear dizes o mesmo. Disse sorrindo.
Ela volta a olhar em redor e como não vê ninguém próximo, oferece-lhe os lábios.
Com o olhar cheio de ternura e delicadeza nos gestos, beija-a suavemente como fosse um sopro de vida.
_ Pronto, pronto, diz ela, afastando-se um pouco.
¬Continuam o passeio de mãos dadas com um brilho nos olhos e um sorriso nos lábios
_¬_ O que te faz lembrar estes momentos? Pergunta ele sereno como o mar antes da tempestade.
Depois de uns minutos responde:
_A nossa juventude.
Com um sorriso luminoso deixa-se ir na corrente infinda das lembranças.
Na sua mente, naquele momento, perpassa um casal de jovens num outro rio numa outra margem em que ele corria atrás dela. Ela tinha o cabelo num rabo-de-cavalo, mostrando todos os suaves contornos do rosto atraente.
_Apanhei-te! Disse ofegante e roubando -lhe um beijo.
Ao princípio ficou surpreendida, mas relaxou e começou a corresponder ao beijo intensamente.
Ele queria perder-se nela. Relevar a sua essência dentro dela, tornar-se parte do espírito e do corpo dela.
Uma lágrima desliza mansamente trazendo um misto de saudade e felicidade. Aperta a mão do marido com mais força.
Ao longe várias mãos acenam-lhes. Com alegria no coração caminharam em direcção aos filhos e netos.
Uma voz curiosa pergunta:
_O que andaram a fazer?
O homem responde a sorrir, e abraça a esposa.
_ A namorar uns lindos olhos azuis e este sorriso maravilhoso da tua avó.


singularidade