O dia acorda
cinzento e chuvoso. Mil gotas caem numa vidraça embaciada pelo bafo de uma
mulher. A solidão consome-a. Indolente e com um sorriso melancólico, caminha
até uma mesa. Religiosamente, abre uma grande janela, numa outra dimensão, transportando-a
a um mundo de sonho, alegria e muita magia. Lá era possível extravasar desejos
e emoções.
Respirou o perfume azul que pairava no ar e que
sabia a sol e a flores silvestres.
A mulher caminha, enfeitiçada, pelas veredas do
jardim. Senta-se num pequeno banco de pedra, no local mais recôndito do jardim.
O tempo
desenha o presente.
Lado a lado, os seus olhares cruzaram-se, umas belas
e distintas mãos percorriam levemente as teclas polidas de um velho piano.
Grande apreciadora da música de piano, ouviu uma das mais belas partituras, o
seu olhar focalizou-se no pianista de semblante sério e pensativo. Nunca tinha reparado
naquele lugar maravilhoso. Um grande coração de tulipas de várias cores
enfeitava a clareira.
Em silêncio
a janela fechou-se.
No dia seguinte, voltou ao mesmo sítio, o
desconhecido não estava, sentou-se no banco, colocou as mãos nas teclas do
piano, fingindo tocar e fechou os olhos. O seu coração bateu descompassado ao
sentir uns passos, alguém se aproximava, abriu os olhos, o pianista estava à
sua frente.
Um brilho de felicidade pairava nos olhos de ambos sempre
que se encontravam. Para eles não havia passado nem tão pouco o amanhã, para
eles o importante era o agora, o degustar de prazeres em busca da felicidade.
Deram as mãos e perderam-se no tempo.
Juntos, alegres e felizes, viajaram num carrossel
de cores, sonhos e emoções, voaram até outros horizontes, conheceram culturas
diferentes, gente maravilhosa. Neles a magia, a sedução, um todo querer. O descobrir
de um novo mundo numa outra vida.
O tempo passava, o inverno já se fora, e a
primavera chegara, eles embelezavam-no com esperança e sonhos
Momento de despedida, o silêncio tomou conta deles
num abraço.
Sentada no banco de pedra, acaricia a saudade com
lembranças dos momentos maravilhosos, era tempo de renascer, era primavera.
Nela a aceitação e num sorriso radioso ressurge a tranquilidade.
Com carinho, despediu-se do seu amigo, arrumou-o num cantinho entre outros no
seu coração.
Um novo começo, um sorriso a descobrir…
4 comentários:
nostálgico este teu conto...tal como a musica que se espalha, e aquece,e aconchega a memória...
abraço amiga e brisas doces *****
"O tempo desenha o presente." Sim, é verdade! :)
Deixo o meu desejo de um Feliz Natal e de um 2014 sempre com criatividade!
Um magnífico conto.
Tens talento para este género literário.
Um beijo, querida amiga Isa.
Adorei seu blog parabéns!!!
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